Chuveirão vetado no Açu gera debate e frita secretários na Câmara de SJB

A Câmara de São João da Barra teve um interessante debate, de mais de 20 minutos (veja o vídeo abaixo), nessa quarta-feira (19), em relação a questionamentos que muitos munícipes e visitantes já fizeram. Por que o litoral da cidade, nos trechos que não sofrem com o avanço do mar, não pode ser urbanizado, com quiosques, banheiros e espaços de convivência? E como explicar que há impedimentos de interesse ambiental se na mesma orla há uma obra de impacto gigantesco, como é o caso do Porto do Açu? A discussão foi intensa e, por fim, sobrou para vários secretários, que, mesmo sem terem os nomes citados, foram fritados por vereadores.
Uma indicação, considerada simples, abriu o debate. Confirmado nessa quarta como líder do governo Carla Caputi (União), Júnior Monteiro (União) solicitou ao Executivo a construção de um calçadão na região do Canto das Pedras, no Açu, que neste verão se tornou um dos grandes points do município. “Aquele pedaço que não está sofrendo com a erosão, poderia fazer um calçadão. Tenho certeza que vão surgir restaurantes, pousadas, vai valorizar”, justificou Júnior.

O vereador Eziel Pedro (SD) declarou apoio à indicação, assim como a presidente da Casa, Sônia Pereira (PT). “Tenho certeza que a Praia das Pedras vai representar o crescimento do Açu”, disse Sônia, ao mesmo tempo relatando a necessidade de intervenções do município para sanar problemas e receber turistas no local.
Até aí, tudo ocorria tranquilamente. Foi quando o vereador Rodrigo Machado (União) pediu a palavra e relatou que solicitou à Secretaria de Obras, por ofício, um chuveirão no local, mas precisaria de autorização da Secretaria de Meio Ambiente, que vetou o pedido. “Tive a resposta da secretária de Meio Ambiente de que lá não pode ter chuveirão, porque é uma área considerada Z2, de interesse ambiental”.
(Atualização às 14h28: A secretária Marcela Toledo nega que tenha vetado o chuveirão no Açu e diz que já fez esclarecimentos aos vereadores, confira aqui)
Sônia questiona sobre impedimentos na orla de SJB

A presidente da Câmara voltou a discursar e levantou questionamentos. “Fico muito triste mesmo. Em Atafona teve que sair os quiosques, tem a questão das tartarugas e não pode fazer um show (em Grussaí). E agora lá (no canto das pedras) não pode fazer (o chuveirão), nem de poço? Eu não entendo! Tem quiosque em Guarapari na beira da praia, tem em Búzios. Só São João da Barra que não pode nada. Não sou muita técnica, mas…”, desabafou Sônia.
Na sequência, passou a palavra para a vereadora Joice Pedra (PV) — que é técnica em Meio Ambiente, Bióloga e tem cinco cursos de pós-graduação na área ambiental, além de já ter sido secretária de Meio Ambiente do município.
Joice: Meio ambiente sadio também cuida de pessoas e da parte econômica

Joice Pedra defendeu a pauta da sustentabilidade, mas ressaltou que o tema leva em consideração três pilares: o econômico, o social e o ambiental. Ela ressaltou a necessidade de revisão do Plano Diretor, pedido da vereadora que também foi aprovado nessa quarta, e do crescimento aliado com o desenvolvimento e qualidade de vida da população.
— Não tem meio ambiente sadio e equilibrado se eu não cuidar de pessoas, se eu não cuidar da parte econômica. A gente tem que buscar, sim, a melhoria do nosso município. E para ter melhoria tem que ter infraestrutura, tem que ter condições. Eu não posso ter uma praia, onde o objetivo é fomentar o turismo e a economia do município, e nessa praia não ter condições básicas de receber o público — destacou.
Vereadores cobram boa vontade de secretários
O vereador Analiel Vianna (PL) apontou que, muitas vezes, problemas simples não têm solução por conta de entraves de secretários. “Precisamos de secretários que tenham boa vontade de fazer as coisas acontecerem. A gente vê que é muita dificuldade, muito contrapeso para as coisas acontecerem em SJB. Podemos, sim, dentro de um projeto baseado nas leis ambientais, conseguir a autorização para um chuveirão”.
A vereadora Joice segui na mesma linha, ao afirmar que é possível colocar um chuveirão no Açu e também para outros projetos. “Se é questão de autorização ambiental para fazer um poço artesiano, a gente tem como, sim, pedir aos órgãos ambientais a autorização para esse poço artesiano, levando em consideração os benefícios que essa atividade vai trazer. Juntos, a gente pode trabalhar até mesmo mostrando ao Executivo que muitas vezes as coisas não saem não é porque faltam questões técnicas, falta vontade”.
O vereador Julinho Peixoto também destacou as dificuldades para soluções simples no município. “Existe muita dificuldade para as coisas aqui em SJB. Mas eu acho que quando o secretário ou a secretária tem vontade, e quer fazer, se dá um jeito. Na verdade, precisa mais boa vontade de estar nos ajudando a atender a nossa população”.
Respeito também é cobrado

No meio dos discursos, a pauta saiu só da questão do Meio Ambiente e acabou sobrando, indiretamente, para outros secretários. O vereador Rommenik (União) chegou a falar em repúdio a detentores de cargo no primeiro escalão. “A gente não pode ficar ligando para um secretário, mandar mensagem, e ficar sem retorno. Hoje é mais fácil a gente falar com a prefeita do que com os secretários”, salientou o parlamentar, que ressaltou, ainda, não ser o caso de todos, mas uma parte do secretariado.

Rodrigo Machado, que já esteve à frente da pasta de Transporte e Trânsito do município, corroborou. “Deve ter respeito, sim. Quando fui secretário, eu pude atender, e sei que deve atender porque o vereador está aqui e é cobrado. Acho que os secretários têm que ter mais respeito aos vereadores”.
Eziel Pedro foi direto nas colocações. “Tem que ter respeito aos vereadores desta Casa, porque nós temos que dar resposta ao povo. Nós que andamos nas ruas, não ficamos só dentro do ar-condicionado”.
Analiel: Como explicar intervenções do Porto e dizer que não pode ter chuveirão no Açu
Para fechar, o vereador Analiel levantou outra questão interessante em relação à orla de SJB.
— O mais impactante é que a praia das pedras fica de um lado daquela barreira. Do outro lado, rasgaram terra, mar, jogaram água, sal, tudo no lençol freático. Aí, do outro lado das pedras, não pode botar um poço com chuveiro. Como eu vou explicar isso como para a população?
Realmente, sobretudo nesta colocação, cabe razão ao vereador. Não é fácil entender, muito menos explicar tal situação.
O blog abre espaço, como sempre, aos citados. O posicionamento da secretária de Meio Ambiente, Marcela Toledo, citada pelos vereadores, será solicitado diretamente a ela. Mas o espaço também está aberto caso mais algum secretário queira se manifestar sobre o caso.
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